A primeira necropsia minimamente invasiva realizada na Bahia teve como objetivo examinar órgãos para avaliar a causa da morte em um paciente com complicações pela covid-19. O procedimento foi feito pelo pesquisador da Fiocruz Bahia Geraldo Gileno, em conjunto com uma equipe de pesquisadores e estudantes da instituição, em parceria com o Instituto Couto Maia.A iniciativa faz parte do projeto COVPEM, que analisa como o organismo lida com a infecção ocasionada pelo coronavírus. O estudo procura entender como é possível reconhecer precocemente se o paciente possui risco de evoluir para um quadro grave da doença e quais as possíveis estratégias para reverter este prognóstico.
O projeto, coordenado pelo pesquisador da Fiocruz Bahia Washington Santos, é realizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia (Fapesb), do Programa Inova Fiocruz e do Instituto Couto Maia, por sua diretora, Ceuci Nunes, e pela médica residente Lilian Verena da Silva Carvalho.
“Estamos inaugurando, na Bahia, a realização desse tipo de procedimento para adquirir conhecimentos sobre a covid-19. As informações obtidas serão passadas aos clínicos para colaborar com a melhoria do tratamento dos pacientes. Futuramente, pensamos em utilizar esse tipo de técnica para vigilância epidemiológica de diversas doenças, dando subsídio para ações das autoridades de saúde a partir da otimização da identificação das causas de morte”, explica o pesquisador.
Sintomas da covid-19 podem se transformar em doença crônicaNecropsias ou autópsias são realizadas para se descobrir as causas da morte, estudar as doenças e aperfeiçoar os conhecimentos na medicina. De acordo com o pesquisador, o número de autópsias convencionais vem diminuindo em todo o mundo, os motivos são: os custos elevados, os familiares nem sempre concordam com a realização do procedimento por questões religiosas e culturais, o avanço no uso de diagnóstico por imagem, como tomografia computadorizada e ressonância magnética, e o surgimento de diversos exames laboratoriais.
“Quando as autópsias convencionais são realizadas descobre-se que alguns diagnósticos não foram feitos corretamente ou que o tratamento de alguns pacientes não foi o correto. Mesmo hoje em dia, a discrepância entre os achados clínicos e os achados de autópsia ainda ocorre em cerca de 15% dos casos. Portanto, autópsias ainda são necessárias para o avanço da medicina. Além disso, são importantes na identificação de doenças e causas de morte e alocação de recursos do Estado na área da saúde e para estudo de epidemias e novas doenças, como a covid-19”, conta o pesquisador.
Nesse cenário, pesquisadores buscam o desenvolvimento de novas técnicas menos invasivas para a obtenção de informações médicas. Dentre essas, está a autópsia minimamente invasiva guiada por ultrassonografia, desenvolvida por Paulo Saldiva, professor do Departamento de Patologia, da Universidade de São Paulo, pioneiro no estabelecimento de novas técnicas para necropsias, com quem Geraldo Gileno obteve a expertise através de treinamento.
“Na medida em que melhorarmos as nossas habilidades e estivermos realizando com sucesso os procedimentos, nós pretendemos treinar médicos patologistas, inclusive de regiões mais afastadas da capital do estado, através de cursos e oficinas”, afirma. A necropsia minimamente invasiva apresenta algumas vantagens com relação ao método tradicional, pois é mais simples, barata e segura para a equipe que a realiza. O pesquisador explica que as necropsias tradicionais são realizadas a partir de extensas incisões no corpo, que pode, por exemplo, ir do pescoço ao púbis, para a retirada e exame dos órgãos.
Com a nova técnica, amostras de vários órgãos, como coração, pulmões, fígado, pâncreas, intestinos e glândulas salivares, são coletadas com agulhas. “A coleta pode ser feita quase que em qualquer local, por uma equipe pequena, apenas com a introdução de uma agulha, quase sem causar alterações no corpo, sendo mais aceitável pelas famílias”, comenta Geraldo Gileno.
As amostras coletadas pela necropsia minimamente invasiva também podem ser analisadas por diversas técnicas usadas no estudo de necropsias convencionais, como microscopia ótica e eletrônica, além de permitir analisar a quantidade de vírus e avaliar características genéticas.
Aspectos genéticos regionais podem influenciar no desfecho da infecção pelo coronavírus, também por isso a importância desse tipo de estudo da covid-19 ser realizado no estado. “Podemos analisar se o paciente pode ter um gene que o predispõe a uma forma mais grave da infecção e, por exemplo, como os genes ligados à inflamação se expressam”, conta o pesquisador.
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Foto: Stockcrafter/istock
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