Dupilumabe. Este é nome de uma substância que promete controlar os sintomas de uma doença crônica e incapacitante, a dermatite atópica.
Esta é uma doença de origem genética, hereditária, que atinge cerca de 3% dos adultos e 20% das crianças em todo o mundo, de acordo com a Global Epidemiology and Risk Factor.
Segundo o Censo da Sociedade Brasileira de Dermatologia, a dermatite atópica é a 11ª doença dermatológica mais comum na população brasileira, afetando 2,4% da população em todas as faixas etárias.
O assunto foi o principal tema discutido neste domingo (27) no EAACI 2018 (European Academy of Allergy and Clinical Immunology), congresso da Academia Europeia de Alergia e Imunologia, realizado de 26 a 30 de maio, em Munique, na Alemanha.
Trata-se de uma inflamação na pele causada pelo próprio sistema imunológico que entra em desiquilíbrio e, para se defender de um agente alérgico, seja mofo, pólen, ácaro, algum tipo de animal ou comida, inicia um processo inflamatório que pode afetar diferentes órgãos, como o esôfago e o pulmão, mas principalmente a pele.
A imunologista Ariana Yang, chefe do ambulatório de Dermatite Atópica do Hospital das Clínicas da USP-SP, que participou das discussões, explica que a dermatite atópica pode afetar famílias inteiras, em diferentes graus de gravidade. “São famílias que têm uma maior pré-disposição de desenvolver uma resposta alérgica específica para proteínas ou outros agentes comuns, que não costumam causar mal para ninguém, mas estas pessoas reagem de forma exagerada”.
É uma doença crônica. O tratamento pode amenizar os sintomas ou evitar as crises, mas o paciente vai continuar alérgico e, por isso, sujeito a reações.
A dermatite atópica não é contagiosa, mas é capaz de causar sintomas tão graves que comprometem a vida social e psicológica dos pacientes. São rachaduras na pele, escamações, inchaço, secura e coceira extrema e persistente. Por isso, a doença é considerada debilitante. O desconforto é tão grande que muitas pessoas evitam o contato social e não conseguem cumprir atividades comuns como trabalhar ou ir para a escola.
“Tenho pacientes que não saem de casa porque o simples ato de sentar no banco do carro já faz com que eles tenham contato com ácaros, que, em alguns casos, podem desencadear crises”, explica a imunologista.
Vida social comprometida
Um estudo desenvolvido por universidades americanas e europeias concluiu que sinais de ansiedade e depressão estão presentes em 51% dos pacientes com dermatite atópica. Além disso, 55% das pessoas que vivem com a doença relatam ter dificuldade para dormir cinco ou mais noites por semana e 77% relatam que a doença interfere em sua produtividade.
"A doença é um fardo muito pesado para o paciente, que não consegue mais dormir bem ou trabalhar e estudar”
Peter Schmid-Grendelmeier, imunologista
Durante o evento, Peter Schmid-Grendelmeier, imunologista e pesquisador da Universidade de Zurich, falou sobre a importância de o médico ser capaz de avaliar a gravidade da doença, dos sintomas e dos efeitos colateriais relacionados à dermatite atópica. Para ele, a doença é um “fardo muito pesado para o paciente, que não consegue mais dormir bem ou trabalhar e estudar”.
É comum que o paciente também apresente asma, rinite alérgica, além de quadros de depressão profunda e ansiedade. “Em alguns casos, as infecções são tão graves e severas que os pacientes precisam ser internados para controlar e tratar as lesões e esse conjunto de sintomas e comorbidades. Mesmo assim, nos casos mais graves, a infecção não cessa”, salientou Schmid-Grendelmeier.
salientou Schmid-Grendelmeier.
Ainda de acordo com o médico, a coceira extrema é outro fator que pode agravar o quadro porque durante as crises. Ela é tão intensa que o paciente não consegue ficar sem coçar e, muitas vezes, faz isso dormindo. Desta forma, ele machuca ainda mais pele, que fica ainda mais inflamada, criando um círculo vicioso.
Tratamento ameniza coceiras
Os casos mais graves de dermatite atópica podem ser tratados com imunossupressores, mas este tipo de medicação pode causar efeitos colaterais graves como hipertensão e falência dos rins.
De acordo com Ariana, os tratamentos disponíveis no Brasil ainda não são capazes de controlar esses casos mais graves da doença. “Se o paciente começa a apresentar efeitos colaterais, preciso suspender a medicação imunossupressora, aí a doença volta. Não existem outras opções de tratamento”, afirma.
Durante o EAACI 2018, foi apresentada uma nova substância chamada de dupilumabe, capaz de impedir a resposta exagerada do sistema imunológico e, desta forma, controlar a inflamação e os sintomas da doença.
“É um anticorpo monoclonal totalmente humano que inibe a ação de duas citocinas fundamentais na doença, as interleucinas 4 e 13. Na dermatite atópica ocorre um aumento dos níveis dessas citocinas, principais responsáveis pela inflamação e demais sintomas da doença”, explica Elena Rizova, diretora-médica global de dermatologia da Sanofi, empresa responsável pelo desenvolvimento da medicação.
Em um estudo apresentado por Diamant Thaçi, dermatologista e pesquisador da Universidade de Lübeck, na Alemanha, foram acompanhados 2.119 pacientes com dermatite atópica em grau moderado ou grave.
Os que foram tratados com dupilumabe relataram melhoras nos sintomas, inclusive na diminuição da coceira, após uma semana de uso. Dois em cada três pacientes relataram melhora de 75% das lesões na pele depois de quatro semanas de uso.
Para o médico, a descoberta dessa substância pode mudar a perspectiva dos pacientes: “Esta é uma época muito feliz para os dermatologistas, porque agora, finalmente, existem drogas para o auxílio no tratamento da dermatite atópica grave. A vantagem dessa substância é que ela produz resultados já após uma semana de uso, amenizando a coceira, que é uma questão muito importante para resgatar a qualidade de vida dos pacientes”.
R7
Ariana Campos Yang