Febre amarela preocupa especialistas como possível próxima pandemia global. Estudo revela riscos de transmissão urbana, situação no Brasil e desafios na vacinação. Saiba como a doença pode afetar o mundo e quais medidas preventivas são urgentes em 2025.

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Mais de 2 bilhões de pessoas vivem em áreas de risco para a febre amarela, uma doença que já matou 10% da população de cidades inteiras no passado.

Agora, um estudo publicado na revista npj Viruses alerta: o vírus pode escapar de suas zonas endêmicas e causar uma pandemia global.

Com a urbanização descontrolada, mudanças climáticas e falhas na vacinação, países como o Brasil enfrentam um risco silencioso – e a Ásia, onde o vírus nunca chegou, pode ser a próxima vítima. Entenda por que especialistas comparam o potencial devastador da febre amarela ao da COVID-19.

O que NUNCA te CONTARAM sobre o JEJUM INTERMITENTE Uma ameaça antiga com novos riscos A febre amarela não é uma doença desconhecida. Originária das florestas africanas, ela foi introduzida nas Américas durante o período colonial, levada pelo tráfico transatlântico de escravizados.

Epidemias históricas, como a de Filadélfia em 1793 – que matou 10% da população local –, deixaram marcas profundas, moldando estratégias de saúde pública e urbanização.

No século XX, o desenvolvimento de uma vacina eficaz na década de 1930 e campanhas de erradicação do Aedes aegypti no continente americano reduziram drasticamente a transmissão urbana.

No entanto, o vírus persistiu em ciclos silvestres, infectando primatas não humanos e mosquitos da floresta. Nas últimas décadas, surtos urbanos ressurgiram na África, alimentados pelo crescimento populacional, baixa cobertura vacinal e falhas no controle de vetores.

Agora, cem anos após o epidemiologista H.R. Carter alertar sobre o risco da febre amarela chegar à Ásia, pesquisadores reforçam que as condições atuais são ainda mais favoráveis para uma disseminação global.

Por que a febre amarela pode se tornar uma pandemia? De acordo com o estudo científico publicado na npj Viruses, três fatores criam a “tempestade perfeita” para uma pandemia:

Expansão urbana caótica Megacidades tropicais, como Lagos (Nigéria) e Manila (Filipinas), viraram criadouros ideais para o Aedes aegypti. Na Ásia – onde 2 bilhões vivem em áreas infestadas pelo mosquito -, a população não tem imunidade natural ao vírus. Globalização acelerada Em 2023, 60 milhões de viajantes não vacinados circularam entre países endêmicos e zonas com Aedes. Um único caso importado poderia iniciar um surto em cidades como Bangcoc ou Cingapura. Clima em transformação O aquecimento global expandiu o habitat do mosquito para regiões antes inóspitas, incluindo o sul da China e partes da Europa. No Brasil, o inseto já alcança 100% dos municípios.

“Se a febre amarela urbana ressurgir, sua letalidade de até 50% pode fazer a COVID-19 parecer branda“, alerta o pesquisador H.R. Carter, coautor do estudo.

O enigma da Ásia: por que a febre amarela ainda não chegou lá? Apesar das condições aparentemente perfeitas, a febre amarela nunca se estabeleceu na Ásia – um mistério que intriga cientistas. Algumas hipóteses tentam explicar esse fenômeno:

Imunidade cruzada por outros flavivírus – Populações expostas a vírus como dengue e zika podem ter alguma proteção parcial contra a febre amarela, reduzindo a transmissão.

Diferenças na competência vetorial – Nem todas as populações de Aedes aegypti são igualmente eficientes na transmissão do YFV.

Fatores demográficos e geográficos – Barreiras naturais ou comportamentos sociais podem ter limitado a disseminação até agora.

No entanto, os autores alertam que contar com a “sorte” não é uma estratégia. Se o vírus for introduzido em uma grande cidade asiática com alta densidade de mosquitos, as consequências podem ser catastróficas.

Os desafios para evitar uma crise global Embora exista uma vacina eficaz contra a febre amarela, sua produção é limitada e difícil de escalonar rapidamente em caso de surto. Além disso, muitos países com risco de transmissão não possuem infraestrutura adequada para diagnóstico precoce, controle de vetores ou distribuição emergencial de imunizantes.

O estudo recomenda medidas urgentes, como:

Intensificação da vigilância epidemiológica – Sistemas de detecção precoce podem evitar que casos importados desencadeiem epidemias urbanas. Investimento em novas tecnologias de controle de mosquitos – Métodos sustentáveis e inovadores são necessários para substituir estratégias ultrapassadas. Ampliação da produção de vacinas – Plataformas alternativas de fabricação, como cultivos celulares, podem acelerar a disponibilidade de doses. Preparação dos sistemas de saúde – Países em risco precisam de planos de contingência para lidar com possíveis surtos. A febre amarela no Brasil: vigilância constante contra uma ameaça silenciosa O Brasil mantém um delicado equilíbrio no controle da febre amarela, doença que persiste em seu ciclo silvestre, transmitida por mosquitos das matas a macacos e, eventualmente, a humanos que adentram essas áreas.

Embora o último registro de transmissão urbana (pelo Aedes aegypti) date de 1942, o risco de reemergência assombra autoridades sanitárias, especialmente em um país com extensas regiões de fronteira entre floresta e cidade.

Nos últimos anos, o país enfrentou surtos significativos, como o de 2016-2019, que deixou mais de 700 mortos em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Desde então, a estratégia de vacinação em massa e o monitoramento de mortes de macacos – verdadeiros “sentinelas” da doença – ajudaram a conter novos avanços.

No entanto, desafios persistem: áreas com baixa cobertura vacinal, a constante presença do Aedes aegypti em centros urbanos e a dificuldade de diagnóstico precoce (já que os sintomas iniciais se confundem com os da dengue) mantêm o perigo latente.

O maior temor é que o vírus, hoje restrito a áreas rurais, encontre as condições perfeitas para se espalhar pelas cidades: um humano infectado picado por um Aedes aegypti em uma metrópole como São Paulo ou Rio poderia desencadear uma cadeia de transmissão urbana.

Para evitar esse cenário, o Brasil investe na ampliação da vacinação – hoje recomendada para todo o território nacional – e no combate aos mosquitos, mas enfrenta obstáculos como a desinformação antivacina e a limitação de recursos em municípios mais pobres.

Enquanto o vírus circular nas florestas e houver populações desprotegidas, a febre amarela seguirá como uma ameaça à saúde pública brasileira. A lição é clara: só a vigilância constante e a manutenção de altas coberturas vacinais podem evitar que esse velho conhecido dos trópicos se torne, mais uma vez, um pesadelo urbano.

O estudo reforça que o risco de uma pandemia de febre amarela é real e crescente. Se o vírus se estabelecer em regiões densamente povoadas e sem imunidade prévia, as consequências podem superar até mesmo a crise da COVID-19 em termos de letalidade e impacto social.

Apesar dos avanços científicos, a combinação de fatores como urbanização descontrolada, mobilidade global e mudanças climáticas cria um cenário perigoso. A lição mais importante é clara: a prevenção não pode esperar. Se nada for feito, um velho conhecido da humanidade pode se tornar a próxima grande ameaça à saúde global.

A Organização Mundial da Saúde segue alerta para evitar uma nova pandemia, desta fez, de febre amarela.

Saude Lab

Foto: Canva PRO