A comunicação é essencial para que qualquer criança possa interagir com o mundo. No caso de crianças surdas, a linguagem de sinais é imprescindível para a inclusão e deve ser ensinada precocemente, mesmo que haja a possibilidade de um implante coclear, dispositivo eletrônico para pessoas com perda auditiva de grau severo a profundo.
O aparelho tem uma parte externa usada atrás da orelha e uma parte interna colocada cirurgicamente sob a pele. Ele transforma sons em estímulos elétricos que são enviados diretamente ao nervo auditivo e, assim, pode restaurar parcialmente a audição.
No entanto, sua eficácia depende de diversos aspectos. Após a cirurgia, as crianças devem passar por uma terapia intensiva contínua para treinar o cérebro para dar sentido ao som que ouve. Além disso, o desempenho com a linguagem falada é impulsionado pelo conhecimento da linguagem de sinais, de acordo com artigo publicado no site científico The Conversation.
Em um estudo feito este ano nos Estados Unidos com 136 crianças com implantes cocleares da 3ª à 6ª série, os professores relataram que metade teve dificuldade em expressar conceitos em inglês falado e 13% não falavam inglês.
A pesquisa também mostrou que é um engano afirmar que a linguagem de sinais atrapalha o desenvolvimento da linguagem falada em crianças implantadas.
Em vez disso, foi observado o oposto: filhos surdos de pais surdos, que usam a língua de sinais, acabam tendo mais habilidade na linguagem falada uma vez implantados do que filhos surdos de pais ouvintes que não aprenderam a língua de sinais.
Ainda de acordo com o estudo, há uma relação entre a linguagem de sinais e o inglês falado para crianças em idade escolar que têm implante coclear. As que tiveram pontuação elevada em linguagens de sinais foram as mesmas com alto desempenho em inglês. Já as crianças com poucas habilidades na linguagem de sinais também tiveram problemas com o inglês falado.
Os pesquisadores afirmam que os primeiros cinco anos de vida são decisivos para que uma criança possa desenvolver plenamente suas habilidades de comunicação por meio de uma língua. Quanto mais tardio o aprendizado, maior o risco de que a criança não absorva a linguagem por completo.
Eles ressaltam que crianças surdas expostas à linguagem de sinais mais tarde - após desenvolver a linguagem falada sem sucesso - demonstram um aprendizado rápido de palavras, mas não conseguem atingir estruturas gramaticais complexas.
Por isso, recomendam que todas as crianças surdas, idependentemente da possibilidade de ter um implante coclear, devem aprender precocemente a língua de sinais.
No Brasil, as pessoas surdas usam a Libras (Língua Brasileira de Sinais) para se comunicar. Ela é reconhecida desde 2002 como uma língua oficial no país, pela lei 10.436.
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Foto: Divulgação / Associação de Tradutores Intérpretes de Língua de Sinais do Oeste do Pará