A idade ideal para as crianças começarem a frequentar o oftalmologista é entre os seis meses e um ano, segundo a oftalmopediatra Marcela Barreira, chefe do setor de neuroftalmologia do Banco de Olhos de Sorocaba. De acordo com ela, essa idade é a recomendada para verificar se a criança pode ter algum problema de visão grave, que deve ser detectado e tratado precocemente.
Entretanto, segundo a médica, a maioria dos pais espera o encaminhamento do pediatra, que ocorre entre os 2 e 3 anos, idade na qual ocorre um pico de desenvolvimento da visão da criança, que termina aos 7 anos. Durante esse tempo, a criança não sabe como se manifestar sobre os sintomas e, se não tratados, os problemas podem gerar futuras sequelas.
De acordo com a oftalmopediatra, até os dois anos pode ser difícil perceber algum sinal de problemas na visão pois, no caso de problema precoce, ela já estará acostumada com o modo como enxerga. Já as crianças a partir dessa idade podem dar sinais como apertar os olhos para enxergar, reclamar de dor de cabeça e, ao colorir, sair muito das linhas do desenho.
Por não saberem como se comunicar, a consulta dos bebês ao oftalmologista é feita de modo diferente. Para identificar se há problemas na visão, o médico usa um aparelho e o reflexo da luz na retina. Assim, o médico vai neutralizando esse reflexo nos olhos por meio de lentes, como as do óculos e, quando o reflexo está neutralizado, é detectado o grau ocular da criança.
A ambliopia, ou olho preguiçoso, é um dos problemas mais comuns durante a infância. Na ambliopia, a criança possui uma diferença de visão entre um olho e o outro, sendo o estrabismo — qualquer desalinhamento de visão — uma das causas do problema. Se não tratado até os 7 anos, o problema não pode ser resolvido. Em casos que, pelos olhos estarem desalinhados, as crianças não desenvolvem corretamente a visão, são colocados os tampões.
A médica explica que o tampão é colocado em cima do olho que enxerga bem para estimular a visão do olho que está enxergando mal. Porém, o tampão corrigirá apenas o desenvolvimento da visão e não o desalinhamento. Para corrigir o desalinhamento, segundo a oftalmopediatra, podem ser usados diferentes métodos, como a cirurgia, o uso de óculos ou a aplicação de toxina botulínica no músculo.
Segundo a médica, o problema que mais afeta as crianças é a hipermetropia — dificuldade para ver de perto —, pois toda criança nasce com a condição, já que o olho do bebê é menor que o olho do adulto.
Porém, a miopia — dificuldade para ver de longe, comum em pessoas que têm o olho maior do que o normal — estaria se tornando uma epidemia, de acordo com a médica, pelo uso excessivo da visão de perto, tornando o problema mais frequente em crianças. O astigmatismo também pode afetá-las, fazendo com que não consigam focar a imagem e a vejam borrada.
A conjuntivite alérgica também é comum entre as crianças, que acabam coçando bastante os olhos. Marcela explica que esse tipo de conjuntivite está altamente associada a alergias respiratórias e alterações climáticas. A manifestação do problema pode ser diferente, fazendo com que a criança esfregue muito os olhos, tenha vermelhidão e não apresente secreção amarelada, comum na conjuntivite viral.
A obstrução do canal lacrimal também é um problema frequente nos primeiros meses de vida do bebê. De acordo com a oftalmopediatra, o problema ocorre porque a última membrana do canal lacrimal não se rompeu, o que faz com que a lágrima fique acumulada no local.
Marcela afirma que o problema é resolvido de maneira espontânea ou por massagem feita pelo médico para estimular o rompimento da membrana em 95% dos casos até o primeiro ano de idade. Se o problema não for resolvido até essa idade, o especialista precisa passar um pequeno fio dentro do canal lacrimal para romper a membrana.
O retinoblastoma é um problema menos comum, mas que afeta somente crianças, aparecendo entre os seis meses e um ano e meio, que ocorre por uma mutação genética. O tumor ocular é raro, mas grave, e deve ser detectado de maneira precoce para que seja feito o tratamento para preservar a visão e o olho da criança.
Marcela afirma que o acompanhamento oftalmológico varia. "Se a criança não apresentar nenhum problema, ela pode passar em consulta a cada um ano. Já aquelas que tiverem algum problema ocular, devem passar em consulta pelo menos a cada seis meses", explica.
R7
Foto: Visual Hunt