Cientistas desenvolveram uma vacina experimental para o HIV capaz de neutralizar dezenas de variedades do vírus. A descoberta foi publicada nesta segunda-feira (6) na publicação científica "Nature Medicine" por pesquisadores do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID), nos EUA.
Baseada na estrutura de um local vulnerável no HIV, a vacina induziu a produção de anticorpos em camundongos, porquinhos-da-índia e macacos, que neutralizaram dezenas de variedades de HIV de todo o mundo.
"Os cientistas usaram seu conhecimento detalhado da estrutura do HIV para encontrar um local incomum de vulnerabilidade ao vírus e projetar uma vacina nova e potencialmente poderosa", disse Anthony S. Fauci, diretor do NIAID.
"Este estudo é um passo em frente na busca contínua de desenvolver uma vacina segura e eficaz contra o HIV "
Um estudo preliminar em humanos já está previsto para começar no segundo semestre de 2019.
O relatório divulgado trata de uma das duas abordagens complementares que os cientistas estão trabalhando para desenvolver uma vacina contra o HIV.
Os cientistas primeiro identificam anticorpos potentes contra o HIV que podem neutralizar muitas variedades- cepas- do vírus, e então tentam extrair esses anticorpos com uma vacina baseada na estrutura da proteína de superfície do HIV onde os anticorpos se ligam.
Ou seja, os cientistas começam com a parte mais promissora da resposta imune e trabalham para desenvolver uma vacina que induza esta mesma resposta.
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Nos últimos anos, pesquisadores descobriram muitos anticorpos naturais que podem impedir que múltiplas variedades de HIV infectem células humanas em laboratório. Cerca de metade das pessoas que vivem com o HIV produzem os chamados anticorpos "amplamente neutralizantes", mas geralmente apenas após vários anos de infecção - muito depois do vírus ter se estabelecido no corpo.
Os cientistas identificaram os lugares, ou epítopos do HIV, onde cada anticorpo amplamente neutralizante se liga.
A vacina experimental descrita no relatório desta segunda é baseada em um destes epítopos chamado peptídeo de fusão do HIV, identificado por cientistas do NIAID em 2016. Uma pequena seqüência de aminoácidos faz parte do pico na superfície do HIV que o vírus usa para entrar nas células humanas.
De acordo com os cientistas, este epítopo é particularmente promissor para uso como vacina porque sua estrutura é a mesma na maioria das variedades do HIV, e porque o sistema imunológico claramente o "vê" e produz uma forte resposta imunológica a ele.
Os cientistas testaram a vacina em camundongos para analisar a resposta do sistema imunólogico deles. Posteriormente, usaram a mesma vacina em porquinhos-da-índia e macacos e tiveram sucesso na resposta imunológica, aumentando as expectativas de que a vacina pode funcionar em diferentes espécies.
Os cientistas agora estão trabalhando para melhorar a vacina, incluindo torná-la mais potente e capaz de alcançar resultados mais consistentes com menos injeções.
Outras vacinas em teste
Atualmente, outra vacina está sendo testada com 2,6 mil mulheres do sul africano. O teste usa uma combinação de duas vacinas desenvolvidas pela Johnson & Johnson com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) e a Fundação Bill & Melinda Gates. O estudo tem duração de três anos.
Além desta, uma vacina experimental foi testada em 393 voluntários em cinco países (Estados Unidos, Ruanda, Uganda, África do Sul e Tailândia). O protótipo provocou uma resposta imune (produção de anticorpos) em 100% dos participantes.
Esta vacina experimental, de "duplo gatilho", consiste primeiro em despertar o sistema imunológico com um vírus da gripe comum, antes de dopá-lo com uma proteína encontrada no envelope do HIV, provocando uma reação mais forte do corpo.
G1/globo
Foto: Photo: Jens Kalaene/dpa/AFP/Arquivo