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abacaxiNão é de hoje que se fala nos benefícios da alimentação para a nossa saúde. As novidades sobre este ou aquele grupo de alimentos surgem a todo o instante. A mais recente trata de um dos maiores mistérios da medicina: a endometriose.

Entender o que causa o crescimento descontrolado das células do endométrio – e o processo inflamatório decorrente disto - é um desafio para cientistas de todo o mundo. Só depois de saber a causa é possível determinar um tratamento eficiente e mapear as formas de prevenção.

Na busca por respostas, uma nova pesquisa publicada na última edição da revista Human Reproduction, conduzida por cientistas da Universidade de Oxford, nos Estados Unidos, mostrou que o consumo de frutas é capaz de reduzir as chances de uma mulher desenvolver endometriose.

Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores coletaram,durante 20 anos, informações genéticas, físicas, biológicas e sobre o estilo de vida de 70 mil mulheres com idade entre 25 e 42 anos.

Também foram avaliadas informações sobre os hábitos alimentares - foram verificadas a frequência com que as mulheres ingeriam 130 itens alimentícios, incluindo bebidas. As opções de respostas variavam de nunca ou menos de uma vez por mês a seis ou mais vezes por dia. O uso de suplementos nutricionais também foi monitorado para evitar distorções.

As participantes que relataram consumir frutas e outros vegetais 3, 4, 5, 6 ou mais vezes por dia tiveram, respectivamente, 9%, 10%, 18% e 12% menos risco de endometriose no comparativo com as que afirmaram comer duas ou menos porções diárias.

De acordo com o ginecologista Marco Aurelio Pinho de Oliveira, chefe do Ambulatório de Endometriose do Hospital Universitário Pedro Ernesto da UERJ, o estudo não fecha a questão, mas é importante porque envolve todas as formas da doença e o resultado pode ajudar, principalmente, os casos nos quais a doença ainda está no início.

“A alimentação tem influência menor quando a doença já está mais avançada, mas pode ajudar nos casos no qual a doença ainda está começando a se desenvolver. Este tipo de benefício, os cuidados com a alimentação, quanto mais cedo são adotados, o efeito vai ser mais positivo”, explica.

Frutas cítricas protegem mais

Analisados separadamente, as frutas e demais vegetais apresentam resultados distintos.

          

Frutas cítricas como laranja, limão e abacaxi foram o grupo que mais atuou na prevenção da endometriose. Mulheres com o hábito de comer ao menos uma porção diária tiveram 22% menos risco de desenvolver endometriose do que as que consumiam menos de uma vez por semana.

O estudo indica que a provável responsável pelo benefício é a beta-criptoxantina, uma substância com propriedades antinflamatórias que é transformada pelo organismo em vitamina A.

Mas isso não significa que as mulheres com histórico de endometriose devam incluir as frutas cítricas em todas as refeições. Embora a pesquisa não indique uma quantidade mínima para se obter o benefício, é preciso dosar e encontrar uma forma satisfatória de incluir diferentes grupos de alimentos na dieta.

 “O excesso também faz mal e isso serve para qualquer alimento. O que a gente recomenda é que a mulher não deixe de comer essas frutas. Às vezes as pessoas têm consumo baixo de alguns grupos de alimentos, isso pode causar falta de vitaminas”, destaca o ginecologista da UERJ.

O médico destaca, ainda, que a dica é importante principalmente para mulheres mais jovens e adolescentes, que não construíram o hábito de comer frutas e legumes e dão preferência para lanches e alimentos processados ou industrializados.

“É biscoito, hambúrguer... As mais jovens costumam comer mal. Elas precisam incluir a fruta na rotina alimentar em quantidade adequada, pelo menos uma ou duas vezes por dia”, explica.

A fruta pode ser consumida in natura ou na forma de suco natural. Uma dica que também ajuda no combate à hipertensão e outros malefícios causados pelo sal refinado, é passar a temperar a salada com limão.

Alimentos que fazem o efeito contrário

O estudo também mostrou que alguns alimentos parecem aumentar o risco de endometriose. É o caso dos vegetais crucíferos – aqueles que apresentam flores em forma de cruz, com quatro pétalas. É o caso da couve-flor, brócolis e couve de Bruxelas.

Mulher que costumam consumir estes alimentos tiveram o risco da doença aumentado em 13%. Os autores, no entanto, dizem que são necessárias, ainda, pesquisas adicionais para esclarecer se os crucíferos causaram aumento real no número de casos ou se apenas facilitaram o diagnóstico.

Isso pode ter acontecido porque estes vegetais tendem a potencializar as dores abdominais características da endometriose.

Sobre esta questão, o ginecologista faz um alerta. Os próprios cientistas dizem que este ponto ainda precisa de mais pesquisa, por isso, não vale a pena riscar estes alimentos do cardápio.

“É complicado não recomendar um alimento natural baseado em uma questão que ainda precisa ser estudada. Evitar um tipo de comida pode ser ruim porque esses vegetais têm outras propriedades que podem trazer outros benefícios”, destaca.

Segundo o médico, mais importante do que evitar um alimento natural, é evitar gorduras, refrigerantes e industrializados. "Isso é mito mais impactante para a saúde do que um tipo de vegetal ou outro”.

A recomendação é incluir na dieta alimentos ricos em ômega 3, a exemplo da sardinha, atum, salmão, castanhas e amêndoas. Evitar adoçantes industrializados, reduzir açúcares e farinhas brancos e priorizar hortaliças, carnes magras, ovos, queijo cottage, azeite de oliva, feijões e frutas como caju, goiaba, limão e abacate — todos capazes de reduzir a resposta inflamatória. Óleos hidrogenados, sal refinado comum e temperos prontos também devem ser substituídos.

 

R7

Foto: Getty Images