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A vacina oral contra a poliomielite, conhecida popularmente como "gotinha", deve ser substituída por uma versão injetável nos próximos anos. A iniciativa é uma forma de reforçar a proteção contra a doença e evitar uma maior propagação do vírus no ambiente.

zegotinha

"A ideia é que, da mesma forma que substituímos as doses do primeiro ano de vida pela pólio inativada [com vírus morto ou apenas partículas dele], as doses de reforço também tendem a ser substituídas por ela. Até que, em algum momento, até 2030, no planejamento da OMS [Organização Mundial de Saúde], não se use mais a vacina oral contra a pólio", explica Isabella Ballalai, diretora da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações). O imunizante oral contra a poliomielite surgiu por volta de 1960, criado pelo médico Albert Bruce Sabin. A "gotinha", como ficou conhecida, usa o vírus da pólio atenuado – ativo, porém incapaz de produzir a doença.

Segundo Isabella, foi a vacina oral que permitiu a eliminação da poliomielite no Brasil. O Zé Gotinha, símbolo nacional da vacinação, teve grande impacto na disseminação da importância do imunizante – ele foi criado em 1986 e, em 1990, a doença foi erradicada do país.

Porém, no atual cenário brasileiro, com as coberturas mais altas e a importância da vacinação mais disseminada, ela deixou de ser a melhor opção.

"O vírus vacinal [atenuado] é eliminado no ambiente pela criança vacinada, e pode sofrer mutações – chamamos de vírus derivados da vacina. Quer dizer, não é o vírus selvagem, é um vírus resultado de uma mutação do vírus vacinal. Esse vírus, no ambiente, é o que tem causado surtos em países que já tinham eliminado a pólio, com a queda cobertura vacinal", alerta Isabella. Essas baixas coberturas têm deixado crianças, novamente, suscetíveis ao contato com a mutação.

No ano passado, segundo a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), Estados Unidos e Peru registraram um caso de poliomielite, cada, por poliovírus derivado da vacina, em julho e março, respectivamente.

Nova York chegou a declarar estado de emergência em razão da circulação do vírus da pólio no esgoto do estado.

É para evitar essa disseminação da poliomielite pelo vírus vacinal que a VIP (vacina inativada da poliomielite) será usada integralmente: o imunizante inativado protege contra o poliovírus selvagem e o vírus vacinal da pólio oral e não elimina o patógeno pelas fezes.

"Não é urgente acabar com a pólio oral, mas entende-se que se temos altas coberturas vacinais e conseguimos eliminar o vírus da pólio do planeta, usar a vacina oral não faz mais sentido – assim não teremos a possibilidade de vírus derivados no ambiente", afirma.

As atuais coberturas vacinais do Brasil contra a poliomielite estão longe da meta do Ministério da Saúde – 95%. A vacina inativada chegou a apenas 45,33% das crianças, enquanto a gotinha atingiu 34,39% do público-alvo. Mesmo diante disso, Isabella reforça que a substituição do imunizante oral continua sendo uma ótima opção, já que a VIP traz uma segurança maior aos vacinados e não vacinados.

"Baixa cobertura vacinal é mais um motivo para pensarmos em mudar. Vacinando com a pólio oral vou proteger essas crianças da poliomielite, mas a questão é eliminar o vírus, porque a baixa cobertura aumenta o risco de pegar vírus derivados da vacina", diz a diretora.

A iniciativa ainda não tem data para ser integrada, mas deve se tornar uma realidade até 2030. O Ministério da Saúde irá avaliar as formas de organização do novo esquema vacinal, que depende, por exemplo, da epidemiologia local.

Atualmente, a vacina inativada contra pólio é aplicada em três doses: aos dois, quatro e seis meses de vida do bebê. A VOP (vacina oral poliomielite), usada como reforço, acontece em duas doses – ao total, quatro gotinhas –, entre 15 e 18 meses e entre 4 e 6 anos.

Isabella reforça que a possível substituição da VOP não elimina a necessidade de continuar tomando a gotinha, que continua sendo segura.

"Não é para ter medo da pólio oral. Crianças que receberam três doses da pólio inativada podem vacinar com a pólio oral sem risco nenhum, porque já estão vacinadas", orienta.

Lembrando que não é possível tomar a VOP sem ter sido vacinado com todas as doses da vacina injetável.

E, afinal, se a VIP se tornar uma realidade e o imunizante oral entrar em desuso, o Zé Gotinha deixará de fazer parte da rotina dos brasileiros?

"Eu não sei se está decidido, mas o meu voto é no no Zé Gotinha ficar, ele vai muito além. Ele foi criado para a campanha da pólio mas, hoje, é um símbolo que não vai morrer de jeito nenhum", declara Isabella.

Portanto, o personagem pode continuar sendo um símbolo da vacinação no Brasil.

R7 *Sob supervisão de Giovanna Borielo