Os profissionais inscritos no Programa Mais Médicos começaram a atuar em 454 municípios de todo o país na última segunda-feira, 2. Mas casos de desistências estão frustrando parte das cidades deveriam receber 1.096 médicos brasileiros da primeira etapa do programa.

 

É o caso de Nailton Galdino de Oliveira, de 34 anos. A sua carreira no Programa durou menos de 48 horas e exatos 55 atendimentos. O médico pediu desligamento da unidade em Camaragibe, região metropolitana do Recife. Ele alegou estar impressionado com estrutura precária da unidade. "É uma aberração: teto caindo, muito mofo e infiltração, uma parede que dá choque, sem ventilação no consultório, sala de vacina em local inapropriado, falta de medicamentos", afirmou.

 

A Folha de São Paulo encontrou exemplos espalhados pelo país, com justificativas variadas alegadas pelos profissionais --incluindo falta de infraestrutura, planos profissionais e pessoais e desconhecimento de algumas condições. Um balanço da segunda rodada do Programa Mais Médicos mostra baixa adesão de novos interessados na bolsa de R$ 10 mil por mês. Houve somente 3.016 inscrições, mais da metade de formados no exterior. Enquanto isso, a demanda por médicos ultrapassou 16 mil. Menos de 10% desse número foi suprido na primeira etapa do Programa.

 

O ministro Alexandre Padilha (Saúde) disse que, após a nova fase, deve pensar "outras estratégias" para atrair mais médicos. Ele comparou as baixas às dificuldades cotidianas de contratação. "As secretarias estão vivendo o drama que toda vez vivem quando fazem um concurso público", afirmou. Ele disse que, se houve boicote de médicos contrários ao programa, "é de uma perversidade quase inimaginável".

 

Baixas

Em Vitória da Conquista (BA), dos cinco médicos que deveriam ter começado, três já desistiram. Na região metropolitana de Campinas, dos 13 selecionados, 5 pediram para sair. Na capital paulista, 1 de 6 voltou atrás.

 

Em Salvador, 5 dos 32 convocados já abandonaram, assim como 11 dos 26 profissionais previstos em Fortaleza. No Recife, 2 desistências foram confirmadas de um total de 12 médicos selecionados. A Secretaria da Saúde de Salvador disse que três desistiram porque passaram em concursos, enquanto outros dois alegaram problemas com a carga horária. A baiana Clarissa Oliveira, 27, disse que recuou devido "à falta de estrutura" da unidade em que trabalharia na periferia da capital baiana.

 

Em Caratinga (MG), um médico de 26 anos disse que abandonou devido à vinculação obrigatória de três anos.

 

 

O coordenador do Mais Médicos em Fortaleza, José Carlos de Souza Filho, disse que médicos desistiram logo que "ressaltamos que era necessário cumprir a carga horária de 40 horas e que iriam ficar em bairros mais distantes". Segundo ele, profissionais acharam que poderiam usar parte da carga horária para se dedicar à especialização.

 

Folha S.Paulo