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hivMagreza extrema. Olhos fundos. Manchas por todo o corpo. Definhamento. Essa era a visão de médicos estadunidenses ao olharem para pacientes que chegavam em hospitais de New York, nos Estados Unidos, no período de 1978 a 1980.

Naquela ocasião, os doentes foram diagnosticados com uma forma de pneumonia diferenciada e rara, além de ser fatal. Mais tarde, nomeou como HIV/AIDS. No Brasil, a doença foi identificada pela primeira vez no ano de 1982 pelo Sistema de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde.

Desde então, o país tem sido percursor nos programas de prevenção e tratamento de HIV do mundo. O marco mais importante, segundo especialistas, ocorreu em 1996, quando o governo federal adotou a política de distribuição gratuita de medicamentos. A visão dos médicos, portanto, também mudou. Atualmente, é possível ser diagnosticado com HIV e ter uma ‘vida totalmente normal’. Estimam-se que 926.742 pessoas já foram diagnosticadas com o vírus desde sua existência em terras brasileiras.


O número anual de casos de HIV/AIDS vem diminuindo desde 2013 (43.269), uma vez que em 2017 foram registrados 37.791 novos casos. Segundo o Ministério da Saúde, a concentração dos casos se dá nas regiões Sudeste e Sul, correspondendo cada qual a 51,8% e 20% do total. As regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, por sua vez, registram 15,8%, 6,4% e 6,1%, respectivamente. O Norte, nos últimos cinco anos, apresentou uma média de 4,4 mil casos ao ano, o Nordeste, 9 mil, o Sudeste, 16,1 mil, o Sul, 8,2 mil, e o Centro-Oeste, 2,9 mil. No geral, o Brasil registra 40 mil novos casos por ano.

Na última quinta-feira (14), especialistas e interessados ao tema se juntaram no I Fórum de HIV e doenças associadas, feito pela Sociedade Paulista de Infectologia. No evento, discutiram todos os avanços percorridos na saúde pública brasileira e o que é preciso fazer ainda, mas, claro, sem retrocessos.

“O presidente dos Estados Unidos anunciou a promessa de acabar com HIV nos EUA nos próximos dez anos. Por que a gente não pode trazer essa agenda para o Brasil?”, questionou o professor da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) Esper Kallás.

Apesar de comemorarem a redução dos casos, especialistas possuem a consciência clara de que é preciso fazer mais. E isso inclui, majoritariamente, a prevenção da doença. Nesse caso, o tratamento mais recente aplicado no país mais rico da América do Sul é o PrEP (Profilaxia Pré-Exposição ao HIV). Funciona da seguinte forma: o paciente toma o medicamento de forma programada para evitar infecção pelo HIV caso ocorra uma exposição.


A PrEP é usada nos Estados Unidos desde 2012 e recentemente foi adotada em demais países como França, Peru, Quênia e Austrália. No Brasil, o medicamento é dado gratuitamente no SUS desde o final de 2017. O programa, no entanto, é alvo de contestações por três motivos. São eles: adesão, eventos adversos e compensação de risco.

Durante a palestra, o infectologista Ricardo Vasconcelos destrinchou as críticas feitas ao PrEP. O primeiro ponto é de que sim, houve grande adesão ao tratamento. “Assim que foi revelado, a procura para se inscrever no programa e receber os medicamentos foi enorme, principalmente pela população mais vulnerável”, disse.

Em relação aos eventos adversos, o médico conta que existem efeitos colaterais, mas que tal ponto era deixado de lado pelas pessoas que queriam tomar o remédio. “(Efeitos) colaterais existem, mas como outros tantos medicamentos. E prevenir a doença é melhor do que um efeito colateral”, argumentou, acrescentando a informação de que não há o fator compensação de risco. “Foi feito um estudo com o programa e concluiu que as pessoas que tomam o remédio preventivo não diminuíram o uso da camisinha durante as relações sexuais. Elas se protegem do HIV/AIDS de outras formas também enquanto tomam o PrEP.”

 

R7

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