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Há dez anos, a dona de casa Marta Cunha começou a perder a força dos braços e sentir dificuldade para andar. Em poucos meses, já sem conseguir se locomover, aos 51 anos de idade, ela recebeu o diagnóstico que mais temia: estava com esclerose múltipla.

No início, os medicamentos ajudaram a barrar os efeitos da doença autoimune, que afeta o sistema nervoso central e pouco a pouco paralisa os movimentos do corpo. Mas, depois de algum tempo, os remédios também não faziam mais efeito.

Foi então que Marta decidiu ser voluntária de uma pesquisa desenvolvida pelo Hospital das Clínicas da USP em Ribeirão Preto (SP). Junto de cientistas da Suécia, Inglaterra e Estados Unidos, os médicos brasileiros passaram a tratar a esclerose múltipla com células-tronco.

“Eu tropeçava muito, fui perdendo força, porque perde a mobilidade, até que chegou ao ponto e eu parar de andar”, relembra. “Hoje, tenho uma vida normal. Tenho a sequela que ficou, um pouquinho só, mas levo minha vida normal”, comemora a dona de casa.

O tratamento funciona da seguinte forma: células-tronco são extraídas do corpo do paciente e passam por uma espécie de filtragem. Em seguida, o doente é submetido a alta intensidade de quimioterapia, para praticamente “zerar” o sistema imunológico.

Por fim, as células-tronco congeladas são reintroduzidas no organismo e fazem uma espécie de “reconfiguração” do sistema imunológico. Essa técnica já é usada também para o tratamento de diabetes tipo 1 e esclerose sistêmica, no Hospital das Clínicas em Ribeirão.

Assim como Marta, outros 54 pacientes de quatro países foram submetidos ao tratamento e 94% deles não voltaram a sofrer com os sintomas da esclerose múltipla. Entre os tratados com a medicação convencional, 60% apresentam reincidência da doença.

“O objetivo era ver se o transplante era melhor ou pior do que o tratamento convencional. Nós observamos, ao longo do tempo, que o transplante foi melhor em termos de controlar a doença”, explica a pesquisadora Maria Carolina de Oliveira.

Os médicos destacam que esse tipo de transplante deve ser aplicado apenas se doença estiver em estágio inicial, quando o paciente apresenta dificuldade para andar e mexer os ombros, por exemplo. O doente não pode estar em cadeira de rodas ou acamado.

“No grupo transplantado, houve melhora neurológica. Então, esses pacientes tiveram capacidade neurológica melhor: andar, força, todas essas funções. É uma alternativa quando a esclerose múltipla é mais inflamatória e que não responde bem ao tratamento inicial”, diz.

Os voluntários serão acompanhados durante cinco anos. Além disso, Maria Carolina destaca que, por enquanto, o Sistema Único de Saúde (SUS) só oferece tratamento com medicação, porque o transplante de células-tronco está em fase experimental.

“Ainda é considerado pesquisa, então esse tratamento é feito em centros de pesquisa ao redor do mundo. Mas, nós esperamos que logo venha a ser um tratamento padrão”, afirma.